As grandes metrópoles do período
colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, etc; subjugaram nações
africanas, fazendo dos negros mercadorias, objetos sem direitos ou alma.
Os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas
principalmente nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em
serviços de casa na Inglaterra e França. Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder arrematar os negros. Chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo,
que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e
Sul da África.
Trocavam por mercadorias: espelhos, facas, bebidas, etc. Os cativos de
uma tribo que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da
tribo financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos. No Brasil, os escravos negros chegavam por Recife e Salvador, nos séculos XVI e XVII, e no Rio de Janeiro, no século XVIII.
Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os bantos; cabindos; sudaneses; iorubás; geges; hauçá; minas e malês.
A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou
muito caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre
escravizados e mortos 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituiam
uma parte selecionada da população.
Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava
esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes
fazendas de açúcar. Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava,
em média, de sete a dez anos! Em troca de seu trabalho os negros
recebiam três "pês": Pau, Pano e Pão. E reagiam a tantos tormentos
suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores,
capitães-do-mato e proprietários. Em seus cultos, os escravos resistiam,
simbolicamente, à dominação.
A "macumba" era, e ainda é, um ritual de liberdade, protesto, reação à
opressão. As rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a
asfixia da escravidão. A resistência também acontecia na fuga das
fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram
reconstituir sua vida africana. Um dos maiores quilombos foi o Quilombo
dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi
(protegido de Ogum).Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam
tarefas mais especializadas, reprodutores, caldeireiro, carpinteiros,
tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros,
ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do
Ventre livre e, enfim, pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Pretos-Velhos" foi formada no Brasil,
devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da
África. Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de
maneira precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e
aos antepassados e tornaram-se um elemento de referência para os mais
novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África. Eles conseguiram
preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.Idosos mesmo, poucos vieram, já que os escravagistas preferiam os jovens
e fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal como às
exemplificações com o látego. Porém, foi esta minoria o compêndio no
qual os incipientes puderam ler e aprender a ciência e sabedoria milenar
de seus ancestrais, tais como o conhecimento e emprego de ervas,
plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá graciosamente a mãe
natureza. Mesmo contando com a religião, suas cerimônias, cânticos, esses moços
logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo,
produz sobre o invólucro carnal, como todos os mortais. Mas a mente não
envelhece, apenas amadurece. Não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituíram-se a nata da
sociedade negra subjugada. Contudo, o peso dos anos é implacavelmente
destruidor, como sempre acontece.
O ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta
Terra é a morte. Mas eles voltaram. A sua missão não estava ainda
cumprida. Precisavam evoluir gradualmente no plano espiritual. Muitos
ainda, usando seu linguajar característico, praticando os sagrados
rituais do culto, utilizados desde tempos imemoriais, manifestaram-se em
indivíduos previamente selecionados de acordo com a sua ascendência
(linhagem), costumes, tradições e cultura. Teriam que possuir a essência
intrínseca da civilização que se aprimorou após incontáveis anos de
vivência.
Depois de mortos, passaram a surgir em lugares adequados, principalmente
para se manifestarem. Ao se incorporarem, trazem os Pretos-Velhos os
sinais característicos das tribos a que pertenciam. Os Pretos-velhos são nossos Guias ou Protetores, mas no Candomblé, são
considerados Eguns (almas desencarnadas), e decorrente disso, só têm fio
de conta (Guia) na Umbanda. Usam branco ou preto e branco. Essas cores
são usadas porque, sendo os Pretos-Velhos almas de escravos, lembram que
eles só podiam andar de branco ou xadrez preto e branco, em sua
maioria.
Temos também a Guia de lágrima de Nossa Senhora, semente cinza com uma
palha dentro. Essa Guia vem dos tempos dos cativeiros, porque era o
material mais fácil de se encontrar na época dos Pretos-Velhos é 13 de maio, que é a
data em que foi assinada a Lei Áurea (libertação dos escravos).
Os Preto-velhos representam a
humildade, força de vontade, a resignação, a sabedoria, o amor e a
caridade. São um ponto de referência para todos aqueles que necessitam:
curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz. Não têm raiva ou
ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no
passado.
Com seus cachimbos, fala pausada, tranquilidade nos gestos, eles escutam
e ajudam àqueles que necessitam, independentes de sua cor, idade, sexo e
de religião. São extremamente pacientes com os seus filhos e, como
poucos, sabem incutir-lhes os conceitos de karma e ensinar-lhes
resignação. Não se pode dizer que em sua totalidade esses espíritos são diretamente
os mesmos Pretos-Velhos da escravidão. Pois, no processo cíclico da
reencarnação passaram por muitas vidas anteriores foram: negros
escravos, filósofos, médicos, ricos, pobres, iluminados, e outros. Mas,
para ajudar aqueles que necessitam escolheram ou foram escolhidos para
voltar a terra em forma incorporada de Preto-Velho. Outros, nem negros
foram, mas escolheram como missão voltar nessa pseudo-forma.
Outros foram até mesmo Exus, que evoluíram e tomaram as formas de um Pretos-Velhos.
Este comentário pode deixar algumas pessoas, do culto e fora dele, meio
confusas: "então o Preto-Velho não é um Preto-Velho, ou é, ou o que
acontece?". Esses espíritos assumem esta forma com o objetivo de manter uma perfeita
comunicação com aqueles que os vão procurar em busca de ajuda.
O espírito que evoluiu tem a capacidade de assumir qualquer forma, pois
ele é energia viva e conduzente de luz, a forma é apenas uma
conseqüência do que eles tenham que fazer na terra. Esses espíritos
podem se apresentar, por exemplo, em lugares como um médico e em outros
como um Preto-Velho ou até mesmo um caboclo ou exu. Tudo isso vai de
acordo com o seu trabalho, sua missão. Não é uma forma de enganar ou má
fé com relação àqueles que acreditam, muito pelo contrário, quando se
conversa sinceramente, eles mesmos nos dizem quem são, caso tenham
autorização.
Por isso, se você for falar com um Preto-Velho, tenha humildade e saiba
escutar, não queira milagres ou que ele resolva seus problemas, como em
um passe de mágica, entenda que qualquer solução tem o princípio dentro
de você mesmo, tenha fé, acredite em você, tenha amor a Deus e a você
mesmo. Para muitos os Pretos-Velhos são conselheiros mostrando a vida e seus
caminhos; para outros, são pisicólogos, amigos, confidentes, mentores
espirituais; para outros, são os exorcistas que lutam com suas mirongas,
banhos de ervas, pontos de fogo, pontos riscados e outros, apoiados
pelos exus desfazendo trabalhos. Também combatem as forças negativas (o
mal), espíritos obssessores e kiumbas.
A origem dos nomes dos Preto-Velhos
Há muita controvérsia sobre o fato de o
nome do Preto-Velho ser uma miscelânea de palavras portuguesas e
africanas. Voltemos ao passado, na época que cognominamos "A Idade das
Trevas" no Brasil, dos feitores e senhores, senzalas e quilombos, sendo
os senhores feudais brasileiros católicos ferrenhos (devido à influência
portuguesa) não permitiam a seus escravos a liberdade de culto. Eram
obrigados a aprender e praticar os dogmas religiosos dos amos. Porém
eles seguiram a velha norma: contra a força não há resistência, só a
inteligência vence. Faziam seus rituais às escondidas, deixando que os
déspotas em miniatura acreditassem estar eles doutrinados para o
catolicismo, cujas cerimônias assistiam forçados. As crianças escravas recém-nascidas, na época, eram batizadas duas
vezes. A primeira, ocultamente, na nação a que pertenciam seus pais,
recebendo o nome de acordo com a seita. A segunda vez, na pia batismal
católica, sendo esta obrigatória e nela a criança recebia o primeiro
nome dado pelo seu senhor, sendo o sobrenome composto de cognome ganho
pela Fazenda onde nascera (Ex.: Antônio da Coroa Grande), ou então da
região africana de onde vieram (Ex.: Joaquim D'Angola).
O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar sua experiência, pois
quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma vovó
subentendemos que essa pessoa já tenha vivido mais tempo, adquirindo
assim sabedoria, paciência, compreensão. É baseado nesses fatores que as
pessoas mais velhas aconselham.
No mundo espiritual é bastante semelhante, a grande característica dessa
linha é o conselho. É devido a esse fator que carinhosamente dizemos
que são os "Psicólogos da Umbanda".
Eis aqui, como exemplo, o nome de alguns Pretos-Velhos:
Pai Cambinda (ou Cambina), Pai Roberto, Pai Cipriano, Pai João, Pai
Congo, Pai José D'Angola, Pai Benguela, Pai Jerônimo, Pai Francisco, Pai
Guiné, Pai Joaquim, Pai Antônio, Pai Serafim, Pai Firmino D'Angola, Pai
Serapião, Pai Fabrício das Almas, Pai Benedito, Pai Julião, Pai Jobim,
Pai Jobá, Pai Jacó, Pai Caetano, Pai Tomaz, Pai Tomé, Pai Malaquias, Pai
Dindó, Vovó Maria Conga, Vovó Manuela, Vovó Chica, Vovó Cambinda (ou
Cambina), Vovó Ana, Vovó Maria Redonda, Vovó Catarina, Vovó Luiza, Vovó
Rita, Vovó Gabriela, Vovó Quitéria, Vovó Mariana, Vovó Maria da Serra,
Vovó Maria de Minas, Vovó Rosa da Bahia, Vovó Maria do Rosário, Vovó
Benedita.
Obs: Normalmente os Pretos-Velhos tratados por Vovô ou Vovó são mais “velhos” do que aqueles tratados por Pai, Mãe, Tio ou Tia).
Oferendas aos Pretos-Velhos
Mingau das almas
É um mingau feito de maizena e leite de vaca (às vezes com leite de
coco), sem açúcar ou sal, colocado em tigela de louça branca. É comum
colocar-se uma cruz feita de fitas pretas sobre esse mingau, antes de
entregá-lo na natureza.
Bolinhos de tapioca
Os bolinhos de tapioca são feitos colocando-se a tapioca de molho em
água quente (ou leite de coco, se preferir), de modo a inchar. Quando
inchado, os bolinhos são enrolados em forma de croquete e passados em farinha
de mesa crua, assados na grelha, e depois colocados em um prato de louça branca acrescentando arruda, rapadura, fumo de rolo, etc.
Obs: Nas sessões festivas de Pretos-Velhos, é usual servir a
tradicional feijoada completa, feita de feijão preto, miúdos e carne
salgada de boi, acompanhada de couve à mineira e farofa. Gostam também
de Tutu de feijão preto.